quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A Pasmaceira de Caldas de S. Jorge… O que se diz dos habitantes em 1923…

Caldas de S. Jorge

9 De Junho de 1923

Abriu ao publico o estabelecimento termal e desnecessario será dizer que aqui tudo continua na mesma, como ha um, ha dois, ha seis anos.

Ou, esclarecendo melhor, temos a menos a palhota do parque, onde ás tardes deleciavam uma chavena de café ou um copo de cerveja, e onde se passavam horas alegres em convivio dos amigos.

De resto, tudo na mesma.

Nem o municipio, administrador das aguas, nem a iniciativa particular tentaram melhorar as condições deploraveis em que se encontra esta estancia balnear.

O estabelecimento abriu no dia 3 e já aqui se encontram algumas familias para uso de banhos, general reformado Campos e filha, de espinho, familia Rosado, da mesma praia, Domingos Gomes Ferreira e familia, de Louredo, etc. estão algumas casas alugadas.

Por uma rapida visita que fizemos às diversas dependencias do balneario, constatamos uma severa limpeza e aceio, o que com satisfação registamos.

Todos lamentam que estas maravilhosas aguas continuem entregues á administração municipal, e não apareçam homens de iniciativa rasgada para desenvolver esta decadente estancia á altura a que tem juz pelo seu valor e pelos beneficios que tem operado a milhares de doentes de pele, reumaticos e morfeticos. Todos lamentam, e todos ficam em lamentações, e mesmo os habitantes desta localidade que, plo que ha muitos anos se tem verificado, são duma indolencia lamentavel, sendo preciso fazelos despertar com rasgos de iniciativa, como hà pouco sucedeu, para que eles abram os cordões á bolsa e a si mesmos sejam uteis.

Vem isto a preposito dum relogio que ha dias foi colocado na torre da egreja. O rev. Paroco José da Costa e Silva amealhou alguns cobres de confrarias e destinou os a um relogio que importou em perto de oito mil escudos. O dinheiro amealhado não dava nem para metade do custo do relogio, mas lembrou-se o rev. De promover leilões, exemplo imitado doutras freguezias. Realisaram-se estes em quatro domingos seguidos, concorrendo os habitantes de cada logar com ofertas em tal valor e abundancia, e no final foram apurados vinte e tantos contos.

Este facto deve servir de incentivo a outras iniciativas para que as Caldas de S. Jorge deixem de ter andamento do caranguejo.

Au retour.

(Texto de 9 de Junho de 1923 publicado no Correio da Feira, mantendo-se a transcrição exacta do original. Descoberto e transcrito por Ângelo Miguel Magalhães Cardoso)

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