quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Fernando Conceição VS Pedro Castro e Silva

Vou lançar um desafio ao amigo Pedro Castro e Silva...

Em primeiro gostaria que ele lesse com atenção o texto de Fernando Conceição.

Depois em forma de “esquiço” desenhar o sonho deste grande médico, e ver passado quase um século, o que de facto foi feito, e o que ainda podia ser feito...

Quem sabe se um dia vou ver este desafio aceite pelo Arquitecto com maior projecção da freguesia...

Aos homens de boa vontade

Repartida pelas duas margens do Uima, que coleia serèno entre renques de amieiros, levanta-se a frèguesia de S. Jorge, onde bro­tam as mais bem localizadas ter­mas do norte do país.

Em síntese, é uma tiligrana de verdura num escrínio de pinhei­ros. A natureza, em vez de aspe­ctos grandiosos, dá-nos a sensa­ção de conchego e ganha em va­riedade o que perde em extensão. Não se olha em extasis; observa-se em ternura.

Esse sentimento levou os ba­nhistas a buscar designações no­vas para os lugares preferidos e que vincam de forma inconfundível o pendor de alma que o pano­rama lhes creou—a velha Fonte do Ribeiro de clara linfa e luxuriante vegetação é hoje a «Fonte dos Amores» e a Ponte dos Candeidos, poetizada pelas noites lua­rentas que esbatem em penumbra a sombra dos salgueirais no rio sonolento, chama-se hoje a «Pon­te da saudade».

Sob o influxo vitalizador das suas águas termais todo o orga­nismo se transforma: as articula­ções pêrras de o reumatismo rea­dquirem a mobilidade, a pele es­foliada, dura, de crostas repelen­tes, alisa-se, amacia-se, torna-se flexível, o aparelho digestivo limpa-se de catarros, expurgasse de dispepsias, drena-se de bílis e até a dura fibra cardía­ca, tocada pela acção emoliente dos banhos e pela sedução da pai­sagem, deixa de ser músculo es­treme e desabrocha a sua espiri­tualidade em flirts e casamentos.

Tais são as razões que todos os estios trazem até estas termas cêrca de um milheiro de doentes; mas êsse número deve aumentar, devemos completar as virtudes da natureza com um conjunto harmónico de factores que sejam ou­tros tantos incentivos ao aumento da frequência.

É possível consegui-lo?

É, desde que se expurguem estas termas dos êrros acumula­dos de geração em geração e se entre num período construtivo racional.

Numa terra onde a maioria dos edifícios é recente e, portanto, que se poderia ter delineado em conjunto, calculando, de antemão o eleito arquitectónico sob o as­pecto de beleza cenográfica, deu-se licença a cada indivíduo de construir casas a ésmo, sem aten­der à arquitectura de cada uma nem ao conjunto prespéctivel do sitio em que se edificavam.

Daí quantos crimes de lesa-beleza, quantas barbaridades, come­tidas!

O próprio edifício termal refle­te o gosto caraíba do primeiro curioso de cujas sabencas as suas obras depondem. As suas pintu­ras não se arreceirm de ombrear em policromia com os lenços vianeses e até o frontão que lhe en­cima a fachada monumental apoia a sua senectude a uma colona supranumerária, à guisa de muleta.

Ora não devemos deixar pro­telar-se indefinidamente tal esta­do de coisas. Criemos uma comissão técnica a cujo cargo esteja o traçado geral das termas que véle pela beleza arquitectónica particu­lar ou geral dos edifícios, que su­perintenda na construção dum novo edifício termal de linhas grandiosas (o existente seria, a pós algumas modificações, reservado às classes inferiores) provido do mais moderno material de hidro­terapia e mecanoterapia, com o seu laboratório para analises clínicas, destinado aos trabalhos ine­rentes a uma estação termal moderna e á investigação cientifica.

No môrro da Sé, vestido de ár­vores, um hotel sumptuoso, a ca­valeiro do Parque. Este estenden­do-se aos baldios do Rio da Sé, e aos campos visinhos que margi­namo o Uína, uma larga avenida descendo desde a estrada da Cor­da o monte fronteiro ao rio da Sé, e penetrando no Parque atravez de um portão monumental até acabar num largo espaçoso junto do Balneário, Depois, dentro do Parque, tufos de verdura, recan­to de arvorêdo, cascatas de fontes o Uima alargado em lago extenso sulcado de barcos, semeado de ilhas, àlém clareiras de campos de jogos, e na Avenida Central bazares, barbearias, casas de fru­tas, bars, etc...

Estou a "ver daqui o sorriso cético dalguns que me lêem. São os que vão delindo em lágrimas o ideal que não procuraram rea­lizar.

Homens de bôa vontade!

Homens que sem derrotismos, sem o desalento dos povos que na quietude mansa da impotencia param na estrada da Historia á espera da derrocada final: homens, metemos ombros á tarefa!

Excelentíssimo Senhor Presi­dente da Camara da Feira, Di­gníssimos Vareadores! Estarão esgotados todos os recursos para fazer das Caldas de S. Jorge, aquilo que o desejo nos péde?

Não. A Câmara que já muito tem feito, não pôde arear com a res­ponsabilidade material da obra ? Pois bem, irmanados pelo mesmo ideal, vamos lá acima ao Ministé­rio e roguemos para a nossa Ter­ra o subsídio que para as outras não tem sido negado.

Tracemos um plano geral des­ta obra grandiosa e realizemo-la lenta mas persistentemente.

Foz do Douro, Julho de 1936.

Fernando Conceição

(Medico hidrologista)

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