POEMA DE 1850 ESCRITO NAS CALDAS DE S. JORGE…
Eu abomino as cidades,
Essa turba delirante,
Esse mundo trèdo e falso,
Que chamam mundo brilhante.
Despreso-lhe o seu orgulho,
O seu ouro, os seus brazões,
As soberbas equipagens,
Os seus immensos salões.
Enojam-me as suas polkas,
Seus estupidos leoes,
Seus ridiculos tregeitos,
Suas vis adulaçôes.
Amo a casinha d'aldêa,
Amo do prado a verdura,
Amo o limpido regato,
Amo do bosque a espessura.
Encanta-me ouvir no monte.
O cordeirinho a balar,
Encanta-me ouvir a rola,
Nos pinheiraes a rolar.
Gosto da rustica ponte
Sobre o ribeiro lançada,
Amo a casinha do moinho,
De leve palha colmada.
Apraz-me a lida da caca,
Gosto da pesca do rio,
Apraz-me ouvir as cachopas
A cantar ao desafio.
Apraz-me a rega do milho,
Gosto de vê-lo segar;
E da malha do centeio,
D'arrigada do linhar.
Gosto d'ouvir o zagal
Na viola a descantar,
Amo a chula, a ramaldeira,
A canna verde no mar.
S. Jorge — Julho de I850.
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