terça-feira, 8 de janeiro de 2008

‘É nosso dever distinguir o trigo do joio em matéria de Fogaça’

O Agrupamento de Produtores Artesanais de Fogaça acaba de conseguir o pré-registo europeu de identificação geográfica da Fogaça. Manuel Cavaco, presidente do Agrupamento, mostra-se orgulhoso com o trabalho desenvolvido, pois considera que “tal irá permitir salvaguardar a tradição e garantir a qualidade de um produto secular que hoje é enviado para os vários cantos do mundo”. O próximo passo do Agrupamento é a certificação da Fogaça.


O Agrupamento de Produtores Artesanais de Fogaça surge como uma espécie de “filho” da Confraria da Fogaça da Feira que, preocupada com a preservação da qualidade da Fogaça, confiou aos produtores da Fogaça a regularização do seu fabrico em conformidade com a tradição. Além de promotora, a Confraria da Fogaça é um dos associados do Agrupamento. Na verdade, tudo começou nos anos 90 com a criação do concurso “Fogaça Prestígio”, uma iniciativa da Associação Comercial da Feira (hoje denominada Associação Empresarial do Concelho de Santa Maria da Feira) em parceria com a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, que tinha como objectivo premiar os fabricantes de fogaça que cumprissem as regras da tradicional Fogaça que passavam entre outros pela avaliação do seu paladar, do seu formato e sua textura. O que mudou? Manuel Cavaco esclarece que “com as novas regras, os segredos no fabrico da Fogaça acabaram. Os ingredientes deste pão doce são os mesmos de há quinhentos anos. A Focaça só pode ser confeccionada com farinha, aovos, açúcar, manteiga, água, fermento, limão, canela e sal. E nada mais. Quem quiser inventar outros ingredientes não lhe poderá chamar Fogaça.”A partir de 15 de Julho, “quem tentar produzir Fogaça e não estiver registado no Agrupamento verá o seu produto ser considerado contrafacção, ou seja uma imitação fraudulenta.” Os produtores têm, portanto, cerca de meio ano para se adaptarem às novas regras. Para Manuel Cavaco, é um “período bastante razoável” atendendo a que a Escola de Hotelaria de Santa Maria da Feira, graças a uma parceria com o Agrupamento, está disponível para dar a formação necessária a todos os padeiros e pasteleiros que pretendam frequentar um curso de aperfeiçoamento do fabrico da Fogaça. “O curso custa apenas 75 euros o que é um preço perfeitamente acessível e uma oportunidade a não perder.” _ afirma Manuel Cavaco.Questionado acerca da forma como impedir a contrafacção, o presidente do Agrupamento é peremptório: “Quem tentar produzir a Fogaça sem pertencer ao Agrupamento está sujeito à legislação em vigor. Quanto aos produtores que estejam registados, estes ficam sujeitos à avaliação periódica de um júri composto por quatro pessoas idóneas da Feira que aferirão a qualidade da Fogaça produzida.”“Não podemos permitir que gente menos escrupulosa ponha em causa uma herança que é anterior à própria Festa das Focaceiras.” _ afirma o Presidente do Agrupamento, para quem “a dignificação da produção de um dos produtos mais emblemáticos da Feira em nada pode prejudizar os fabricantes. Em contrapartida, basta um mau fabricante para prejudicar a reputação de todos os outros.”Adepto da Responsabilidade Social Empresarial, Manuel Cavaco insiste “na importância das empresas poderem também, dentro das suas possibilidades, contribuir para o bem comum das comunidades em que estão inseridas”. E confessa sentir-se “honrado por, enquanto empresário, estar envolvido num projecto que visa a defesa, a dignificação e o prestígio deste produto secular enobrecido pelo povo Feirense.” Lamenta apenas que haja “uns poucos que não compreendem nem acreditem na boa fé deste projecto, nem na dimensão cívica das empresas.” Compreende que “as resistências à mudança são típicas de todos os tempos”, mas diz confiar “no tempo que, com a sua sabedoria, avaliará quem hoje pretendeu salvaguardar a tradição e investir na qualidade, quem hoje pretendeu apostar num projecto, que visa proporcionar às gerações de hoje e às futuras a distinção clara do trigo do joio, em matéria de Fogaça.” Manuel Cavaco faz questão de sublinhar que “este é um projecto que chega a bom porto graças à acção de muitas pessoas e entidades”. Destaca a Associação Empresarial do Concelho de Santa Maria da Feira pelo empenho nas várias edições da “Fogaça Prestígio”; a Confraria da Fogaça da Feira; a Comissão de Vigilância do Castelo de Santa Maria da Feira; a Escola de Hotelaria de Santa Maria da Feira e a Junta de Freguesia da Feira. Eduardo Leite e Antero Barbosa “são duas das pessoas a quem este projecto muito deve”, mas não esquece o apoio dos vereadores Emídio Sousa e Celestino Portela, bem como o do Chefe Silva. E aponta o Presidente da Câmara Alfredo Henriques como “a pedra angular de todo este projecto”.

In Jornal Regional Online.

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